quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

A arte efêmera – Feliz natal

Subtrair da soma do tempo às horas é delimitar a existência ao momento efêmero.

Dezembro é o mês do natal. À convite de uma amiga, Juliana Lousa, subverti minha rotina aos grandes centros de consumo, como os shoppings, só pela companhia.
Segundo Juliana, era natal, e como tal, ela deveria presentear seu familiares, em especial a pequena Julhinha, filha de Juliana com o empresário do mármore, Fernando Lousa Neto.
No shopping, caminhamos por corredores iluminados, trilhados por vitrines elaboradas com requintes de status. A temperatura é a mais agradável possível, nem tão ao frio, nem tão ao quente.
Não há janelas, o relógio do sol é sabidamente exumado de seu céu sobre a jurisprudência que garante ao consumidor a perda de sua noção temporal e espacial, uma vez que também não há quinas que possam referenciar o começo ou o fim do lugar.
Mas definitivamente não foi esta distração que me ocupou.
Depois de visitar algumas lojas de artigos infanto-juvenis, Julhinha confidenciou à mãe a sua verdadeira vontade quanto ao presente de natal. Ela queria um livro.
Aquilo me comoveu. uma menina de apenas doze anos de idade desejando um livro como presente de natal.
Saltei à frente de Juliana e garanti que este presente eu faria questão de dar.
Fomos à livraria escolher o livro que Julhinha tanto queria.
Lá estavam eles, todos enfileirados, um a um. Cada capa com a sua espessura e páginas. O cheiro de um livro novo é o aroma que não compete às flores, mas aos textos.
Julhinha identificou o livro como sendo a história de um amor impossível entre um vampiro e um ser humano.
Perguntei a ela se era um amor como em Romeu e Julieta. Julhinha me respondeu que não fazia idéia de quem eram esses dois, mas me garantiu que o amor do vampiro e da humana era o amor mais bonito.
Minhas sobrancelhas arquearam. Pela empolgação da menina, o livro deveria ser muito bom.
Dado a minha curiosidade, Juliana, mãe de Julhinha, sugeriu que fossemos ao cinema para assistir ao filme que dava nome ao livro que antecede o que Julhinha estava levando.
Com o convite, e menina abriu um enorme e envolvente sorriso, mesmo já tendo assistido ao filme duas vezes. Senti-me leviana em dizer não.
Eu não li o livro. Também não compactuei com os aplausos ao final da exibição, não pelo filme ou pelo livro, apenas não o fiz.
Na sala de exibição vi rostos ávidos por aquilo projetado. Rostos em suas primeiras gestações de faces. Rostos envolvidos pela efemeridade do momento.
Comum nos dias de hoje. A copulação do tempo com o efêmero reproduz nas relações da juventude o precoce gozo mental. E como tal, a sua duração não se estende por muito tempo.
Como conseqüência, inflamação das vias da razão que impedem o fluido do pensamento ao ápice do questionamento. Processo humanamente natural neste tipo de relação.
A arte repousando à sombra do tempo. Uma sombra que se vai com a virada do tempo, com a chegada do sol.
Observei que os produtos da cultura são voltados a atender esta demanda, a este espetáculo de personagens esquecidos, de histórias repetidas, de tramas resolvidas ainda na introdução.

Quanto a Julhinha, só posso desejar um feliz natal, que estendo a todos os freqüentadores do Cabaret.

Muita paz e livros por que VALE MUITO LER...

E não se esqueçam:
O natal é o folclore do consumo. Sabemos que não existe, mas consumimos em acreditar.

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