quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Carta ao leitor

É quando violentamos a moral que o sentido reencarna a atenção necessária a verdade dos fatos.
Ontem me deparei com uma velha caixa de sapatos. Como em um baú de relíquias, a caixa era guardiã da memória. Das minhas memórias. Memórias ativadas ao afago da lembrança.
Cada vida que vivi, cada uma em seu tempo, cada tempo com sua justificativa.
Hoje, olho da minha janela e o que vejo? A leveza do toque ausente! O diálogo abafado da voz rouca em constante repouso! A mutilação do ser pelo consumo do corpo! O escambo do tempo como extorsão da própria vida! Assalariados da fome habitando a essência do consumir valores que são subtrativos às necessidades verdadeiramente básicas, por fins de proclamar o direito a travestir-se da imaculada sensação de pertencer a uma elite à beira do holocausto.
Quem são os jovens de hoje? Figuras imóveis! Imagens encarceradas pelo enquadramento preciso nas mãos imprecisas de um maquinário fotográfico! Jovens virtualmente estáticos ocupados em narrar a trajetória de seus corpos. Voyeures doentes, infelizes com a própria vida  encontram refúgio para sua sobrevivência na vida dos outros. Uma juventude que segue e é seguida por caminhos que não levam a um único lugar. São como apóstolos sem um deus.
Seus protestos são como um grande grito no pensamento que só é ouvido em um único lugar: em sua própria cabeça, em seu mundo virtual. Pois quando há necessidade do corpo, do grito na voz, esta juventude se confirma como imagens encarceradas pelo enquadramento preciso nas mãos imprecisas de um maquinário fotográfico. Imagens frágeis dos corpos que se resumem à fração de um segundo, um retrato. Idéias imprecisas que realizam a fábula da vida que verdadeiramente não levam.
E é justamente quando vejo a foto em que estou abraçada ao meu saudoso amigo Drummond, que me sinto segura em dizer: o poeta está morto, sua obra vive e seu sucessor ainda não nasceu.      

Um comentário:

Naiá Márjore disse...

Nem tudo está perdido. É a minha conclusão após ter lido este post. Os corpos prevalecem e continuam sendo incansavelmente substitutos da virtude de valorizar a mente. No entanto, ainda existe mente. E o que comprova este dado é justamente este post. Não diga que o poeta está morto, ele está em você!