sábado, 24 de outubro de 2009

Uma velha amiga...

Tardes de domingo são de um silêncio profundo e solitário, irrompido apenas pelas figuras que se afetam pela solidão e se esgueiram de suas residências atrás de companhia.
Hoje recebi a visita de uma velha conhecida em meu Cabaret, Maria Abigail Dolores Merlo.
Pudera Deus abençoá-la com o ausaimer. Assim ela seria apenas uma jovem em um velho corpo. Corvos ordinários... Por que deixaram à velhice valer de uma troca saudosista que retira do nosso mundano o tempo presente, fazendo do passado a única moeda vigente?
Presumo que a falta da virilidade de seu já falecido marido, o delegado Tenório Merlo, aposentou o consolo que afagava o desejo dela. Como fala esta mulher! Por carência? Talvez.
Depois de horas relembrando a parte de menor importância e por isso menos interessante da vida, reverbera, no salão principal do Cabaret, o assunto que domino.
Maria era professora aposentada da rede estadual. Sua história como docente esconde um segredo lindamente modelado.
Maria Abigail tinha quarenta e três anos. Vinte e cinco anos desempenhando a função de educar, mas algo saiu de controle.
Um dia quando o diretor da escola de ensino fundamental Marina Folgos Alcantra, Eduardo Brosdo, foi visitar a sala onde Maria lecionava, na hora do intervalo, se deparou com ela afagando a genitália do pequeno Bernardo Tevez, filho do empresário do ramo hoteleiro Reginaldo Tevez.
Um grito no vácuo. Maria era casada com o então delegado Tenório Merlo. Foi justamente ele que tratou de abafar o caso.
Tenório era um homem robusto cujo ego não aceitaria como amante de sua esposa um moleque de não mais que 12 anos.
Foi então que ele mandou matar o diretor Eduardo, que se negou a cooperar com seu silêncio e ameaçou procurar a imprensa caso Maria não sofresse as devidas penalidades regidas pela maestrina, surda e cega lei.
No laudo do inquérito que ele, o delegado Tenório, tratou de investigar, constatou que Eduardo Brosdo morreu por um ataque de um grupo extremista radical que odiavam homossexuais.
Eduardo era casado e deixou duas filhas. Uma de minhas meninas me disse que a esposa de Eduardo nunca o perdoou.
Foi assim que conheci Maria Abigail Dolores Tenório. Em meio à sociedade disciplinar, padres não absolveriam tal pecado, mas se a confissão fosse feita ao próprio pecado, certamente absolveria. Foi o que fiz.
O que trouxe Maria nesta tarde de domingo ao meu Cabaret foi a pergunta que ela achava que somente o pecado saberia a resposta.
Maria queria saber o que fazer sobre o fato do genro dela estar traindo a sua filha. Sorri para ela e gentilmente disse:
Caríssima amiga! Perdoe o seu genro, Bernardo Tevez. Afinal, o pecado sempre absolve o pecador...

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