segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Belo fruto

Ao belo fruto amordaçado pelas pragas que lhe rodeiam com farpas da fala malfadada, escutai do silêncio o longínquo grunhido de sua existência.

Hoje fui acometida por uma instância nova ao meu cotidiano Flâneur.
Pela fome que sentia, poderia até jurar que já se passava do meio dia.
Meu corpo rompido pelo tempo não suporta grandes percursos de caminhadas. Logo suplica pelo descanso e eu o entrego ao primeiro assento que se desponta à minha frente.
Cansada, não me restou muito a não ser sentar e observar. Foi só aí que me dei conta da instância.
Eu estava com vista para os muros da escola de 1º e 2º grau Rita de Oliveiras Friburgo.
Mas não pense que eu dispersei minha atenção com toda a extensão do muro. Não.
Ainda sentada, enquanto apreciava um jovem casal entrelaçados por um beijo rasurado pela anomalia berrante do desejo de querer parecer adulto, que um outro jovem, não mais que 13 anos, idade que também julguei ser a dos jovens no muro, sentou ao meu lado e puxou assunto.
A princípio ele, Dennis, fez questão de me confidenciar à identidade do casal, que segundo ele, seria D’menor e Shirley.
Cansada como estava, não queria saber de conversa, por isso apenas sorri. Mas logo, Dennis excitou a fagulha em meu corpo incendiando a minha angústia em decifrar o enigma ao qual esta sociedade codifica as suas relações sociais.
Dennis me disse o quanto ele desejava ser o D’menor. Não pelo próprio, mas sim pela Shirley.
Eu apenas disse a ele: Assim como a Shirley você também o deseja. Cria sobre ele a paixão que o torna vassalo do modelo que ele é. A você só cabe deixar de amá-lo, esquecê-lo, ignorar esta paixão que arde em você, abandoná-lo do posto de objeto de desejo e encarcerá-lo na prisão dos ignorados.
O menino se levantou me mandou a merda e saiu.
Voltei a observar o casal D’menor e Shirley. A cada dia que passa tenho mais certeza:
Que abrir os olhos pela manhã não significa despertar. Que a ideologia não significa ideal.
Nossas crianças são filhos híbridos do desinteresse e da omissão. Nossa moralidade é instrumento de manutenção do comportamento, ferramenta reguladora da necessidade, rédeas que controlam o direcionamento do nosso livre arbítrio, discurso vazio de um decoro privilegiado.
Nossas crianças são burras! Nossas crianças são reflexos de seus pais!
“Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria” (Machado de Assis)

3 comentários:

Alisson da Hora disse...

Nossas crianças de hoje são terríveis filhos de uma estupidez generalizada. Poucos os pais que tem a maturidade suficiente para discernir entre EDUCAÇÃO e INSTRUÇÃO, para não jogar tudo nas costas da Escola...

Ricardo Novais disse...

A velha culpa da falta de identidade desta nossa sociedade; não é, minha querida?

Excelente post, parabéns! Adorei a citação do 'mestre dos mestres', bastante pertinente no texto.

Lu Luz disse...

não basta não ser cego para ver, abrir os olhos não significa despertar. olho para as crianças e não encontro sequer algum vestígio nostálgico da minha infância perdida que eu nem sei se existiu.