sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Quanto vale a farsa...

Nunca fui muito boa com datas. O tempo esfacela o dia, o momento finito pelo declínio das horas que torna a passagem o passante da vida. E o que finca? A memória. Esta doença que nos dias de hoje não se prolifera. Morre no leito solitário de seus bastardos adoradores.
Lembro de cada narrativa que experimentei na primeira pessoa. Mas confesso. Não sou fiel às datas.
Fui ao Rio de Janeiro, botafogo, à convite do Deputado Estadual do Maranhão, Jonas Cabral.
Ele estava com dificuldades em uma negociação que já perdurava meses e não dava margens de favorecer o nobre Deputado.
O ministro de telecomunicação, Ismael Nunes, altivo, não mais que seus 55 anos, cabelos grisalhos, de uma voz roca que desafina até a fala, não estava concordando com o projeto de uma nova emissora de TV no estado do nobre Deputado. Desde o início de sua campanha, Jonas sonhava com a sua própria emissora. A quem garanta que ele só se lançou candidato para conseguir o direito ao sinal.
No Rio acontecia o ENAR, Encontro Nacional da Radiodifusão, ou o encontro dos canalhas fanfarrões que se deleitam em corromper a inocência do discurso parcial.
Jonas me convidou justamente por que pretendia chantagear o Ministro com algum flagra da obscenidade que convém ao próprio ser humano. De fato, seis meses após o ENAR o Deputado Jonas fundava a emissora Cabral de comunicação. Chantagens à parte, o que ocupou minha atenção de verdade foi um outro acontecimento.
Mila Salvadore, atriz, seu último papel em telenovela foi à vilã Ilda Morais cuja repercussão suprimiu a interpretação de um elenco de mais de 30 atores.
Mila havia sido convidada a desfilar sua imagem pelos corredores do evento, só a sua presença já valeria as manchetes da manhã do dia seguinte.
Quando indaguei o Deputado sobre a presença de Mila ele logo se adiantou em me dizer que ela havia cobrado uma grande soma de dinheiro por três horas de sua presença.
Não me agüentei. Passada a primeira hora da festa, fui cumprimentá-la.
Fico pensando, um ator, cuja máscara permite a ele viver outras vidas, e por que não extrair de cada vida, uma outra vida, ser demasiadamente único e por isso influenciável.
Não demorou muito para Mila me confidenciar um pouco de sua vida. Sorrir pelos outros, mesmo que a graça não compartilhe do motivo.
Oferecer um abraço em forma de sua generosidade à cobiça de um alguém alheio só por admiração, da parte apenas desse alguém, é claro. Mudar sua forma ao formato da forma que muda a cada estação. Entregar seu corpo, excluir sua alma.
Foi aí que me dei conta. Atrizes são como as minhas meninas só que cobram mais caro.

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